Colossenses 2:14, 16, 17 não aboliu o sábado?
COLOSSENSES 2:14, 16, 17 NÃO ABOLIU O SÁBADO?
Colossenses 2:14, 16, 17 ‘Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.’
Este texto de Colossenses, constitui um dos mais citados na argumentação contra a observância do sábado. Se a interpretação fornecida pelos opositores do sábado a esses versos é verdadeira, então a própria guarda do domingo estará comprometida, pois o texto é abrangente, incluindo qualquer dia: ‘dia de festa, lua nova …’
Antes de qualquer coisa, seria proveitoso atentar para a advertência do apóstolo Pedro quanto aos escritos de Paulo: II Pedro 3:15 e 16 ‘E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.’ Já naquela época, percebia Pedro a existência de textos difíceis nas cartas de seu colega de ministério, o que deveria servir de aviso para todos aqueles que pretendam se estribar em algumas de suas epístolas a fim de contrariar outros ensinos escriturísticos. Por outro lado, isto não quer dizer que haja equívocos doutrinários nos escritos de Paulo. O que ocorre muitas vezes é que os textos paulinos aparentam dizer uma coisa, embora, na verdade, o pensamento do autor fosse diferente.
Não há em Colossenses 2:14, 16,17 a mais leve referência à lei moral, ou à sua súmula: o decálogo. Não há, em todo o contexto, alusão a nenhum preceito dos 10 mandamentos, mas sim a outros preceitos. Em Romanos 7:7, por exemplo, Paulo alude à “lei”, mas o contexto esclarece que se referia à lei moral, porque um dos seus preceitos é citado, “não cobiçarás”. Tiago também fala em “lei”(Tiago 2:10,11) e a seguir cita 2 preceitos da lei moral. Mas, no caso vertente, nem a palavra “lei” é mencionada nos textos, mas apenas uma cédula de ordenanças. O preceituário cerimonial consistia de extensas instruções ritualísticas a que os judeus ficavam obrigados. Um autêntico “escrito de dívida” - como reza outra tradução. “Ordenanças” são meras prescrições litúrgicas, e isto não se aplica à lei moral. Compara-se com Heb. 9:1. Ordenanças “é um rito religioso ou cerimônia ordenada por autoridade divina ou eclesiástica.’ Standard Dictionary. A igreja de Colossos, a exemplo das de Galácia, Éfeso, Roma e outras enfrentava dissensões internas em virtude da ação conservadora dos elementos judaizantes, isto é, judeus que aceitavam o Evangelho, ingressaram na igreja, mas conservavam práticas do judaísmo e pretendiam impô-las aos cristãos vindos do gentilismo. Entre estas práticas estava a observância da lei cerimonial, notadamente os dias de festa(Páscoa, Pentecostes, Dia da Expiação, Festas dos Tabernáculos, Luas novas e outras). Também a circuncisão e a implicação com as carnes sacrificadas aos ídolos pelos pagãos, e que os judeus não admitiam fossem consumidos pelos cristãos. Paulo quis dizer aos cristãos de Colossos que estas ordenanças e festividades foram riscadas ou cravadas na cruz. Tendo vindo Cristo, automaticamente cessaram os tipos e “sombras” que para Ele apontavam.
PAULO EM RELAÇÃO AO SÁBADO
Qual a atitude de Paulo quanto ao 7º dia? As Escrituras evidenciam que esse não era um dia comum para o ‘apóstolo dos gentios.’ Em várias partes do livro de Atos, Paulo é encontrado numa sinagoga no dia de sábado: ‘Mas eles, atravessando de Perge para Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se … Ao saírem eles, rogaram-lhes que, no sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas palavras … No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus.’ Atos 13:14, 42 e 44. ‘Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras.’ At.17:2 - Porém, dentre as várias passagens encontradas no livro de Atos dos Apóstolos, 2 se destacam: At.16:13 e 18:1-4. Na 1ª citação, Paulo, mesmo estando em Filipos, cidade em que provavelmente não havia sinagoga, não deixou de reverenciar a santidade do sábado; antes, retirou-se para junto de um rio, para desfrutar daquelas horas sagradas: ‘No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração, e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido.’ O outro texto apresenta o apóstolo na cidade de Corinto, em que por 1 ano e 6 meses, trabalhou fazendo tendas. O fato de se dedicar a uma atividade não religiosa é um grande auxílio para se identificar o dia em que ele repousava: ‘Depois disto, deixando Paulo Atenas, partiu para Corinto. Lá, encontrou certo judeu chamada Áqüila, natural do Ponto, recentemente chegado da Itália, com Priscila, sua mulher , em vista de ter Claudio decretado que todos os judeus se retirassem de Roma. Paulo aproximou-se deles. E, posto que eram do mesmo ofício, passou a morar com eles e ali trabalhavam, pois a profissão deles era fazer tendas. E todos os sábados discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos.’ Diante dessas evidências, torna-se difícil concluir que Paulo não tivesse respeito pelo dia do Senhor.
Falando sobre a palavra grega ‘sabbata’, uma forma plural de sabbaton. Embora sabbata em muitos casos não represente um exato plural, pelo fato de derivar da forma singular aramaica, por outro lado é de frequente sentido singular. Sabbata pode representar um plural exato, como, por exemplo, em Atos 17:2 e sem dúvida no nosso texto(Col.2:16) ainda reforçado com o peso do contexto indicando tratar-se de sábados anuais. Certo que “sabados” de Col. 2:16 está no grego sem o artigo, mas o sábado semanal em grego também está sem o artigo em João 5:9; 9:14, etc.
FIGURA DE LINGUAGEM
Figura de linguagem é um fenômeno literário em que uma palavra ou, um conjunto de palavras, tem seu sentido básico alterado em virtude do contexto em que está inserida.
Metáfora: A figura de linguagem metáfora ocorre sempre em que uma coisa é equiparada a outra sem que os termos usuais de uma comparação sejam empregados. Em outras palavras, trata-se de uma comparação direta. Exemplo: ‘Ela é tão bonita quanto uma flor.’ Exemplo de metáfora: ‘Ela é uma flor.’
Hipérbole: A figura de linguagem hipérbole pode ser definida como um exagero, cujo objetivo é o de dar ênfase. Exemplo de hipérbole: ‘Já lhe expliquei isso mil vezes.’
Na verdade, o que ocorre no texto de Col.2:16 e 17 é uma figura de linguagem chamada: metonímia.
Metonímia ou Sinédoque: Trata-se do uso do todo pela parte, ou vice-versa; bem como do conteúdo pelo continente, ou vice-versa; ou ainda da causa pelo efeito, ou vice-versa.
Ex. 1 - ‘Naquela fazenda há 1000 cabeças de gado.’
Ex. 2 - ‘Eu só queria um teto onde eu pudesse viver.’
Ex. 3 - ‘quando é lido Moisés’ - II Coríntios 3:15. Ora, Moisés é uma pessoa e, como tal, não pode ser lido. Não obstante, foi ele quem escreveu o Pentateuco, por sinédoque, pode-se dizer assim: ‘quando é lido Moisés.’ Em outras palavras, o autor é tomado pela obra. Outros exemplos: Lucas 24:27 e At.15:21.
COMER, BEBER, DIA DE FESTA, LUA NOVA E SÁBADOS
Consultemos os 10 mandamentos. Nele só há preceitos morais e éticos. Nenhuma “ordenança” portanto. Sabemos que Moisés escreveu um livro(Deut. 31:24; Êx. 24:4,7) cujo conteúdo consistia de estatutos civis, preceitos higiênicos, ordenanças levíticas e regulamentos sobre festividades, Lua nova, manjares, ofertas, sacrifícios, etc.(Êx. 23:14-19; capítulos 29 e 30; Lev. cap. 1 a 7;21,22,23, etc).
“Ordenanças, o qual nos era prejudicial” - A complicadíssima e onerosa lei cerimonial, com suas exigências difíceis e até penosa, tendo preenchido a sua efêmera finalidade com a morte de Cristo, tornou-se desnecessária aos cristãos. Não assim a lei moral de Deus, que é santa, justa, boa, espiritual e prazenteira(Rom.7:12, 14 e 22)
A expressão ‘dias de festa, lua nova ou sábados’ não foi cunhada por Paulo. Sua raiz se encontra em Números 28 e 29. Ali são apresentadas as ofertas especiais dos dias santos, isto é, dos sábados, das luas novas e das festas, além do contínuo holocausto, que, de ordinário, era oferecido todos os dias. É interessante a existência de uma progressão cronológica na exposição dos sacrifícios peculiares de cada celebração: sacrifícios dos sábados - semanais (28:9 e 10), das luas novas - mensais (28:11 - 15) e das festas - anuais (28:16 - 29:40). As Escrituras não apresentam apenas um sábado: o sábado da Criação, do decálogo ou semanal, ou seja, o sábado que os adventistas guardam. Haviam os sábados cerimoniais que não caiam necessariamente no 7º dia e que eram meramente feriados religiosos anuais dos judeus.
O assunto predominante de Números 28 e 29 não é o da obrigatoriedade do descanso nos dias festivos, não da guarda desses dias em si, não da cessação do labor secular nessas ocasiões; seu objetivo principal é estipular quais e quantos animais deveriam ser sacrificados nessas ocasiões. Outras passagens como exemplos: I Crônicas 23:31 - II Crônicas 2:4 - II Crônicas 8:12 e 13 - II Crônicas 31:3 - Esdras 3:4 e 5. Na passagem de Isaías 1:13 e 14, Deus estava abominando suas festas por causa da hipocrisia dos judeus que, mesmo vivendo em pecado, ajuntavam-se para assistir aos sacrifícios especiais que eram realizados nos dias santos. Oséias 2:11 ‘Farei cessar todo o seu gozo, as suas Festas de Lua Nova, os seus sábados e todas as suas solenidades.’ A interpretação está aludindo à cessação dos holocaustos do Templo de Jerusalém, os quais eram oferecidos nas datas sagradas do calendário religioso de Israel. Com a destruição do santuário israelita pelos exércitos da Babilônia, os sacrifícios deixaram de ser oferecidos e as cerimônias não mais eram realizadas. Deus não pode estar dizendo que o sábado, como um dia da semana, deixaria de existir. Isso seria ilógico, pois implicaria o próprio fim do ciclo semanal. A referência não pode ser também ao descanso sabático, pois mesmo que Deus determinasse sua cessação, as pessoas poderiam manter a sua observância, impedindo, assim, a plena realização das palavras do profeta: ‘Farei cessar … os seus sábados.’ Na passagem de Lamentações 2:6 e de que a menção ao esquecimento do sábado está relacionado às cerimônias do santuário, alusão à demolição do tabernáculo na invasão babilônica a Jerusalém. Em Neemias 10:31-33, o sábado é mencionado sob 2 aspectos diferentes. No verso 31, a ênfase está na guarda do sábado como dia de repouso, já que os judeus se comprometeram a não comprar nada durante as suas horas sagradas. O verso 33, por outro lado, também menciona o sábado, porém, num contexto totalmente diverso. A referência é aos holocaustos das festas, das luas novas e dos sábados. Isso pode ser sintetizado da seguinte forma: enquanto a preocupação do verso 31 é a santificação do 7º dia pela cessação do labor secular, a ênfase do verso 33 é puramente cerimonial, voltada para os sacrifícios especiais dos dias santos, oferecidos nos recém reconstruído Templo de Jerusalém.
Em resumo, o objetivo de Paulo em Colossenses 2:14, 16, 17 era mostrar a presente ineficácia dos holocaustos, das ofertas de manjares e das libações que eram oferecidos nos dias santificados, pois tais serviços cerimoniais eram apenas ‘sombras (prefiguração) das coisas que haviam de vir, porém o corpo ( a realidade simbolizada pelos sacrifícios de animais) é de Cristo. Esse texto nada tem a ver com repouso sabático.
OS CRISTÃOS EM RELAÇÃO ÀS FESTAS: PENTECOSTES, PÁSCOA, ETC.
O sábado foi estabelecido quando Deus lançou os fundamentos da terra e foi dado a toda a humanidade. Disse Jesus em Marcos 2:27 ‘O sábado foi estabelecido por causa do homem.’ O mesmo não se dá com as demais festividades do povo judeu, pois foram outorgadas à nação israelita por ocasião do Êxodo e de sua peregrinação no deserto. Ou seja, enquanto o sábado, pela sua própria origem, possui caráter universal, as festas mensais e anuais dos judeus estavam restritas àquela nação. (Lev.23:37 e 38).
Diante dessas evidências, Paulo não ataca um mandamento que remonta à criação. Sua prática demonstra profundo respeito pelo dia do Senhor.
CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
1) DISPENSACIONALISMO divide a economia divina em dois: dispensação judaica ou da lei; e dispensação cristã ou da graça.
2) Nós, os adventistas do 7º dia, não guardamos os 10 mandamentos a fim de ser salvos. Aquele que é salvo torna evidente a sua salvação em guardar os 10 mandamentos. Embora não haja salvação em guardar os 10 mandamentos, há condenação em não guardá-la.
Os 10 mandamentos não podem salvar o pecador, mas estabelece uma norma para a vida do pecador, salvo. Mostra ao transgressor o seu crime, mas não o salva. O espelho revela a mancha do rosto, mas não a remove, é a água que tira a impureza que o espelho revelou. Os 10 mandamentos descobrem o pecado e o sangue de Cristo lava o arrependido pela fé, das manchas do pecado.
Nós, os adventistas do 7º dia, somos cristãos fundamentalistas que se apegam unicamente pelos méritos de Cristo para a salvação, sendo a própria fé um dom de Deus. Tudo quanto o adventista fiel possa “fazer”, se assim nos podemos expressar, não é ele quem faz, mas Cristo que nele vive. Quem guarda a lei é Cristo que vive nele. “Senhor … todas as nossas obras tu as fazes por nós.” Is. 26:12.
A observância dos 10 mandamentos é fruto da salvação obtida pela fé em Cristo Jesus, o caminho natural da santificação. Somos salvos pela fé mas julgados pelas obras, daí por que devemos observar os preceitos divinos pelo poder de Cristo.
3) Quando a Bíblia menciona textos que aludem a ‘abolir’, os opositores falam que trata-se dos 10 mandamentos; quando fala da lei como em ‘vigor’, então os adventistas precisam provar para os opositores que se refere aos 10 mandamentos. É impossível haver uma só lei na Bíblia, do contrário, a Bíblia não seria mais que um amontoado de contradições.
A Bíblia não tem sistemática. Ela apenas descreve e enuncia. Somente o estudo, a análise, a comparação de artigos de fé determinam sua coordenação doutrinária. Na Bíblia não se encontram as palavras: ‘trindade’, ‘milênio’, ‘imersão’. No entanto, estes termos definem ideias cristãs. O mesmo critério aplica-se em relação às leis.
Links:
https://www.adventist.org/pt-br/em-que-os-adventistas-do-setimo-dia-acreditam/
https://consultoriadoutrinaria.blogspot.com/
http://consultadapalavra.blogspot.com/
https://youtu.be/l8VyLqdq1U8?si=97RSkL5aIA12swSb
https://youtu.be/d8zvyOi-2jI? si=bXql_Z_z1Hai_tlD
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